Hoje foi difícil ver os olhos de uma mãe de mais de 70 anos chorando a morte da filha.
Uma dor pungente.
Este é um lugar para escrever a morte. Já ouvi muitos acharem estranho eu escrever sobre isso, mas tenho contato com pacientes oncológicas, muitas em fase terminal e presencio, ouço e convivo com a morte quase que diariamente. São histórias de garra, força e fragilidades misturadas com poesia e arte que também são fontes inspiradoras. Os nomes não são verídicos e as histórias são muitas vezes,apenas histórias que ouvi.
Hoje vi uma paciente deitada na cama com o olhar desbotado de tanta dor...A paciente tem Câncer de colo, descobriu a doença no parto de seu bebê.Seu bebê tem alguns mesinhos e o câncer já tomou grande parte de seu abdômen...
Nos musgos da alma os olhos fitavam o nada(ninguém havia ligado naquele dia). Uma hora após essa cena, vi a mesma paciente levantando da cama para dar uma caminhada: tinha uma amiga abraçada consigo, tinha braços novamente e pernas para levantar-se. A força veio da amigalma que veio acompanhar a paciente, dormir (ou não) na cadeira dura ao lado dela, estender-lhe a mão, somar seu tempo ao tempo que a amiga ainda tem.
Durante o dia a paciente havia se queixado de dor, ameaçado se despir se não houvesse medicação forte pra aliviar aquilo tudo, aquilo tão nada, tão vazio, tão sem sentido... A amiga ficou sabendo e brincou com ela no corredor: - Ah ta... Agora quer ficar pelada? Perdeu até a vergonha?? E a paciente riu, riu muito...
Simples gestos podem tanto!
*foto do filme "Lado a lado"