segunda-feira, 2 de junho de 2008




Poema nº 08 da série Espelhos
(da inexorabilidade da morte)


Especulastes
por séculos
e séculos

vossa santa imagem mundana
e te abrigastes num céu
que não é teu

meu poema ateu
trás da tua imagem
a (des)semelhança

nenhum Deus te habita
olha-te no espelho

este feixe de carne musculos
e luz
que te conduz e seduz

apodrece à dispensa
do que na tua mente reluz

e como aquela flor
que resplandece
nesta manhã de agosto

mesmo a contragosto
serás um dia
apenas lixo orgânico

e não haverá nenhum Deus
céu inferno paraiso
ou sei lá
a crença que for preciso


que lhe desencrave da carne
a morte.

Paulo. 2 de Junho de 2008 08:14

Um comentário:

Edith Janete disse...

Paulo,
como sempre um poema lindo!!
Tu és meu poeta vivo preferido!!
Ainda não achei ninguém com tua sensibilidade e proeza, tens o dom de colocar cada palavra em um lugar certeiro, onde é despertado imediatamente o sentimento.
Abraço