Ela não é uma droga.
Ela não é a “Crackeira”.
Ela é uma mulher que teve dois filhos que deve ser tratada com respeito como qualquer outra pessoa. Ninguém conhece sua história e nem seu sofrimento... Pode ser um precioso momento de oferecer escuta e certo amparo.
Passou pela minha vida para me dizer algumas pérolas que não irei esquecer:
“Obrigada por me ouvir. Difícil pra mim sendo usuária de crack ser tratada com respeito. Não respeito nem a mim. Meu marido está me largando... Claro, ninguém agüenta uma pessoa drogada, correndo, fugindo, enganando... Vou parar. Decidi isso hoje, DE NOVO. Já parei um ano, mas é horrível, tenho muitos batendo na minha porta sempre me convidando pra fumar.Obrigada por me tratar como gente. Tu não tens idéia do quanto é importante ter alguém para mostrar que o mundo não é cercado de pessoas ruins. Sim, vou tratar meus filhotes que nasceram hoje como gostaria que tivessem me tratado. Não posso repetir com eles o que fizeram comigo.
Obrigada.
Como é teu nome? Posso trazer meus filhos aqui para tu veres que vou conseguir? Tu vais até me ver mais gorda, com uma cara melhor... Antes da droga eu tinha quase 100 kg, queria meus 100 kg... Estou um fiapo”.
Um sorriso,um olhar marejado, uma esperança.
Não sei se alguma coisa que eu disse irá fazer frente à droga. Sei de uma que procurou ajuda há algum tempo atrás...
Tomara que esta história tenha um final de vida.
Queria tanto que as pessoas não tivessem medo de encontrar a dor nessas pessoas. É gratificante ver um olhar de vida no meio de tanta morte.
Obs.: Parece ironia, mas ela usava uma camiseta "Crack nem pensar". Creio ser apenas a tentativa de um novo começo.