sábado, 31 de março de 2012


Ela não é uma droga.
Ela não é a “Crackeira”.
Ela é uma mulher que teve dois filhos que deve ser tratada com respeito como qualquer outra pessoa. Ninguém conhece sua história e nem seu sofrimento... Pode ser um precioso momento de oferecer escuta e certo amparo.
Passou pela minha vida para me dizer algumas pérolas que não irei esquecer:
“Obrigada por me ouvir. Difícil pra mim sendo usuária de crack ser tratada com respeito. Não respeito nem a mim. Meu marido está me largando... Claro, ninguém agüenta uma pessoa drogada, correndo, fugindo, enganando... Vou parar. Decidi isso hoje, DE NOVO. Já parei um ano, mas é horrível, tenho muitos batendo na minha porta sempre me convidando pra fumar.Obrigada por me tratar como gente. Tu não tens idéia do quanto é importante ter alguém para mostrar que o mundo não é cercado de pessoas ruins. Sim, vou tratar meus filhotes que nasceram hoje como gostaria que tivessem me tratado. Não posso repetir com eles o que fizeram comigo.
Obrigada.
Como é teu nome? Posso trazer meus filhos aqui para tu veres que vou conseguir? Tu vais até me ver mais gorda, com uma cara melhor... Antes da droga eu tinha quase 100 kg, queria meus 100 kg... Estou um fiapo”.
Um sorriso,um olhar marejado, uma esperança.
Não sei se alguma coisa que eu disse irá fazer frente à droga. Sei de uma que procurou ajuda há algum tempo atrás...
Tomara que esta história tenha um final de vida.
Queria tanto que as pessoas não tivessem medo de encontrar a dor nessas pessoas. É gratificante ver um olhar de vida no meio de tanta morte.

Obs.: Parece ironia, mas ela usava uma camiseta "Crack nem pensar".  Creio ser apenas a tentativa de um novo começo.

sábado, 3 de março de 2012

27 anos, câncer de mama.
Chora mãe, chora filha, chora o marido...
Vidas podadas tão cedo me fazem lembrar de Nietzsche:
"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"
Imagem: Botero