Quando me procuram para que eu avise a família de que alguma paciente está morrendo, torço para que ela esteja viva até os familiares chegarem. Rosa estava com 40 anos e um câncer de útero avançado, o sangramento aumentado estava consumindo com sua vida rapidamente. Percebi que não estavam dando sangue a ela e perguntei à enfermeira: será que não seria melhor darem sangue para ela? Só pensava nos familiares...
A enfermeira procurou na prescrição e o sangue estava prescrito. Pediu ao banco de sangue e logo em seguida a paciente recuperou um tom de vida nas faces. Conversei com uma colega sobre a impotência e a vontade de perguntar a paciente se ela não tinha algum recado para dar aos filhos, ao marido... Não é minha função. E nem ela tinha idéia de que a morte estava tão próxima. Situações destas são extremamente conflitantes e a equipe toda se sente tensa. No plantão seguinte fui logo procurar a paciente na lista: estava lá! E estava acompanhada de um filho, iria passar a noite com a mãe. Um final melhor do que eu esperava. O afeto estava lá. A morte prematura é sempre dolorida, mas a presença de amor e afeto nessa hora faz parecê-la mais digna.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Quando chegar o tempo da minha morte,
não me lamente.
Não me deseje sossego.
Por favor, não diga:
– Que descanse em paz.
Não estarei dormindo na rede,
mas estirado em uma cova!
Tão inerte... Inexistente.
Um cadáver contumaz.
Não me vele, não me evoque,
não me cite em preces.
Não peça por minha alma.
Não chore por ter saudade,
e num lapso de caridade
esqueça-me, docemente.
Não se exceda, tenha calma.
Eu já não existirei.
Quando eu me for sem ter volta
cante uma antiga cantiga de roda:
"diga um verso bem bonito
diga adeus e vá embora".
Laurene Veras
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