terça-feira, 17 de novembro de 2009

Salomé


Esta semana acabei de ler Salomé do Oscar Wilde. Mais próxima de mim do que a Salomé Bíblica...


(...) Por que não me olhas, Iokanaan? Teus olhos, que eram terríveis, tão cheios de ódio e escárnio, estão fechados agora. Por que estão fechados? Abre-os! Ergue as pálpebras, Iokanaan! Por que não me olhas? Estás com medo de mim, Iokanaan, e por isso não me olhas? E a tua língua, que era como uma serpente vermelha expelindo veneno, não se move mais, nada diz agora, Iokanaan, aquela víbora vermelha que cuspilhava veneno contra mim? É estranho, não? Como é que a víbora vermelha já não se move?... Consideraste-me ninguém, Iokanaan. Desprezaste-me. Pronunciaste ignóbeis palavras contra mim. Trataste-me como uma meretriz, uma dissoluta, a mim, Salomé, filha de Herodíade, princesa da Judéia! Bem, Iokanaan, eu estou viva; mas tu estás morto e tua cabeça me pertence (...)


Não é a toa que meu mestrado fala de histeria...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A um moribundo (Florbela Espanca)


Não tenhas medo,não! Tranquilamente,

Como adormece a noite pelo Outono,

Fecha os teus olhos, simples, docemente,

Como, à tarde, uma pomba que tem sono...


A cabeça reclina levemente

E os braços deixa-os ir ao abandono,

Como tombam, arfando, ao sol poente,

As asas de uma pomba que tem sono...


O que há depois? Depois?... O azul dos céus?

Um outro mundo? O eterno nada? Deus?

Um abismo? Um castigo? Uma guarida?


Que importa? Que te importa, ó moribundo?

- Seja o que for, será melhor que o mundo!

Tudo será melhor do que esta vida!...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Finados


Este blog precisa homenagear um dia tão significativo.

Uma história comovente:

Esta história já aconteceu fazem alguns meses, mas só consegui escrever sobre ela hoje, já devidamente distanciada ,em parte, ao menos,dos afetos que ela despertou.

Uma moça de 24 anos , câncer de colo de útero, agonizava na madrugada.

A família sempre presente, sempre esperançosa. Afinal,ela era jovem, bonita, cheia de vida...

Uma noite, começou um sangramento muito forte em decorrência do câncer...

A moça se sentiu muito fraca e com dores por todo corpo.

Mas o mais chocante, para os funcionários da enfermagem e todos que estavam por perto, foi ouvir a moça gritar:

-Eu não quero morrer!!! Por favor, eu não quero morrer!!!

Fizeram de tudo. O grito se foi.

Ela morreu.


Semanas se passaram e a voz e a cena não saíam da cabeça dos funcionários...

Em um post anterior eu comentei que preferia pessoas que sabiam que a morte estava próxima e aproveitavam o fiozinho da vida que restava... E que me sentia mal com pessoas que deveriam estar cheias de vida, mas estavam mortas.

Esta história me fez repensar...

Dói demais ouvir a ânsia de vida em uma pessoa que está morrendo.

E agora??

(foto que tirei de flores de plástico de um cemitério de Dois Irmãos-RS)