segunda-feira, 11 de agosto de 2008


Dostoiévski
(trecho de Memórias do subsolo)


Mas vós poderíeis me pegar na palavra desde o começo e me perguntar: se é verdade que não pensa em seus leitores, por que então combina consigo mesmo ‑ e no papel ‑ ainda! ‑ que não observará nenhuma ordem, nenhum sistema, que registrará o que lhe passar pela cabeça, etc.? Por que se explica? Por que essas desculpas ?
Pois bem! eis aí! é assim!
Há, de resto, aí, um caso psicológico interessante. É possível que eu seja muito simplesmente um covarde. Mas é possível também que imagine diante de mim um público, a fim de não perder o sentido das ‑conveniências. É possível ter milhares desses motivos...
Mas há ainda outra coisa: por que, em suma, pus‑me a escre­ver?' Se não é para o público, não posso evocar minhas lem­branças sem as lançar ao papel?
Com efeito, mas quando estiverem fixadas no papel, adqui­rirão um aspecto mais solene. Isto me constrangerá, julgar‑me‑ei melhor e meu estilo ganhará. Demais, é possível que isto me traga certo consolo. Assim, hoje, estou particularmente oprimi­do por uma lembrança longínqua; surgiu em mim muito nitida­mente há alguns dias, e, desde então, me persegue sem tréguas, como um desses motivos musicais que não pretendem vos largar. Ora, é preciso absolutamente que eu me desembarace dela. Tenho centenas de recordações desse gênero; mas uma delas às vezes des­perta de súbito e me agarra pela garganta. Eu imagino, não sei mesmo por quê, que se a registrar, ficarei livre. Por que não tentaria?
E depois, enfim, eu me aborreço e nunca faço nada. Escrever as lembranças é um trabalho. Diz‑se que o trabalho torna o ho­mem bom e honesto. É então uma oportunidade que se me ofe­rece...

domingo, 3 de agosto de 2008




Estava de férias no mês de Julho e me perdi da morte por alguns dias...


Mas quando voltei para o trabalho contaram-me que uma colega de trabalho, que tinha câncer de ovário, havia falecido.


Vinha acompanhando a história da Marta desde que ela descobrira a doença, mas não me encontrei mais com ela pessoalmente. Trabalho no turno da noite e dificilmente passo no meu trabalho durante o dia. Nos dias em que passei, Marta estava em Quimio ou afastada para recuperação das mesmas...


Quando fiquei sabendo do diagnóstico dela, fiquei pensando o que faria se descobrisse que iria morrer...postei isso aqui no blog. Não faz muito tempo.


Não tenho medo da morte, tenho medo do sofrimento que possa surgir antes dela.


Aqui deixo um pouco do que foi a Marta pelos meus olhos:


Uma pessoa reservada,preocupada em fazer sempre tudo da forma correta,por vezes me parecia até infantil, com um sorriso meio tímido, uma cara de ingenuidade. Poucas vezes Marta foi tomar café conosco, quando eu trabalhava durante o dia... Era um café onde fofoqueávamos muuuito, ríamos muito, e em seu passo tímido por vezes Marta passava por lá. Talvez fosse impressão, e não posso mais confirmar o que direi sobre ela, mas parecia que ela não se autorizava a ficar consoco, como se parecesse não ter certeza que gostaríamos de tê-la em nossa companhia. Bobagem, pois a idéia era divertir-nos, era bem vindo quem se deixásse levar pela gandaia que fazíamos.



Pode ser só impressão.